sexta-feira, fevereiro 10, 2012

A quem interessa a luta de classes?

Para Marx e Engels, a sociedade é o lugar do conflito entre opressores e oprimidos. “Capitalistas” teriam se apropriado dos meios de produção e estariam a explorar os que não têm meios de produzir sua subsistência. Haveria uma “obsessão pelo lucro” e, em conjunto com a “competição desenfreada” entre os capitalistas, teriam causado a enorme proletarização da humanidade.

A solução então, ainda segundo aqueles estudiosos, seria a “socialização” dos meios de produção, ou seja, as estruturas agrícolas, industriais, comerciais e de serviços seriam “de todos” ao invés de terem donos, empresários, proprietários.

Esta sociedade fictícia, em que os meios de produção estariam nas mãos do “povo”, teria uma estratificação “achatada”, com muitos, senão quase todos, cumprindo tarefas semelhantes e vivendo vidas iguais, embora usufruindo de assistência médica, educação, segurança, moradia e alimentação de qualidade aceitável. E esta sociedade –imaginária, insisto– apenas seria possível após intensa luta de classes.

A grande maioria das pessoas, que pouco ou nada têm, precisaria se mobilizar e rebelar-se contra uma minoria detentora do capital e da propriedade. Estes seriam expulsos e o povo se encarregaria de continuar a produção.

Chegamos ao impasse: capitalismo ou socialismo? Democracia ou regimes centralizados?

A luta de classes, na sociedade moderna, possui aspectos muito diferentes das lutas que aconteceram no século passado, em especial a primeira metade. Mesmo em organizações sociais socialistas há elite, opressores e oprimidos. Ou seja, há classes.

Por outro lado, alguém poderia dizer que assim como o cidadão cubano não pode deixar a ilha, há milhares de brasileiros que, igualmente, não podem deixar o local onde vivem, pois não têm consciência de si e do mundo, não têm dinheiro nem patrimônio. São presos numa terra de liberdade.

A ideia, então, não é escolher, mas tirar proveito (proveito social!) das regras do sistema em que vivemos. Pelo menos isso a democracia e, quem diria, o capitalismo, permite. As regras existem, especialmente, as que não estão escritas. Há, por exemplo, a regra do “boca-a-boca”. Respeita-se mais o que se ouve pelas ruas do que as informações oficiais. Há leis que “não pegam” e há regras de convivência que determinam as relações sociais.

No mundo capitalista há empresas. E empresas precisam viver. E sobreviver. Um saudável objetivo para uma empresa é a longevidade, e, não, simplesmente, o lucro. Para ter uma vida longa uma empresa precisa aplicar o que a ciência, os práticos e os estudiosos afirmam. Lucro não seria o fim, mas o meio. Sim, há estudos e há empresários que pensam assim. O capitalismo é menos selvagem em certas cabeças e certas paragens. Quando falam em capitalistas, de quem estão falando? Até o século passado, eram homens de meia idade, cartola na cabeça, poucas palavras e sem escrúpulos no coração. Suas empresas sumiram ou adaptaram-se.

A realidade é outra. A ditadura é atribuída ao mercado e, este sim, não perdoa: corta cabeças e esquarteja o corpo. E é esta adrenalina que leva milhares de “aventureiros” à trilha do empresariado. Sim, o canto da sereia de ser seu próprio patrão (e agora, como fica a luta de classes, se sou opressor e oprimido?) e uma possível ascensão social também contam. E esta é a grande diferença no mundo capitalista e democrático: ascensão social. Ela é possível e muito mais acessível do que se faz crer. Observamos isso a cada dia.

Uma contradição, então, habita os corações de quem “não possui meios para sua sobrevivência” (visão marxista do proletariado):

- Luto com minha classe contra os que, dizem, são meus opressores, ou luto por meu progresso e escalo os degraus da sociedade?

A opção de tentar melhorar de vida é, na verdade, uma tentativa de mudar sua própria classe social. Aos poucos, um trabalhador pode ser promovido a gerente, conquistar um cargo de direção, acumular experiência e treinamentos e -quem sabe?- tornar-se um pequeno empresário. Qual é o tamanho limite para que ainda não seja um “capitalista opressor”? Não, não se trata do tamanho da empresa, mas da atitude do empresário.

Se a opção é pela luta de classes, descarta-se completamente a luta por ascensão social e decreta-se a eternidade do status “trabalhador” (como se fosse deixar de trabalhar ao tornar-se empresário!).

-Luto contra a “burguesia”, tenho ódio dos ricos, abomino as empresas e o capitalismo. Ao mesmo tempo preciso trabalhar e não me conformo em produzir riqueza para quem eu tanto abomino.

São pensamentos que não resultam em melhoria de vida e apenas interessa a grupos até então alheios neste raciocínio. Ora, a luta de classes apenas interessa a quem está no poder e se utilizou do discurso “anti-burguesia” para chegar onde está. Se o “proletariado” estudar, acumular experiência, atuar com ética e dedicação, aproveitar as oportunidades nas empresas, ele deixará sua condição e passará a “classe média” e, quem sabe, “burguesia”, profissionais bem remunerados, ou pequenos, médios ou grandes empresários... Quem, então, continuaria ouvindo os discursos sobre luta de classes?! Quem continuaria fiel aos que incitam uma guerra inútil?

Sim, chegamos, então, ao mal maior, senão o único: a distribuição da riqueza. Quem possui bens, capital, patrimônio, não deseja perdê-los. Na verdade, não deseja perder a ponto de retornar a classes às quais já tenha pertencido e tanto suor custou para deixá-las. Querem manter o status conquistado, seja por ele próprio ou por seus antepassados.

É justo. Ao mesmo tempo, se fossem indagados se abririam mão de parte de seu patrimônio para, de maneira idealmente justa e igualitária, resolver questões relacionadas à educação, segurança, saúde coletiva, a resposta seria um sonoro sim. Enquanto essa possibilidade é um sonho, esforçam-se para manter o que possuem e, nesta luta, precisam caminhar em direção a “ter mais”, “acumular reservas” para períodos de vacas magras. Pode não significar, como outros imaginariam, um simples desejo de poder ou apego ao dinheiro, em si. De nada adiantaria serem mártires da sociedade e arriscarem suas conquistas a ponto de perderem tudo. Todos perderiam e teria sido apenas um alívio momentâneo, insustentável.

A verdadeira política de distribuição justa de riqueza precisaria considerar o potencial das regras da sociedade moderna e a possibilidade de ascensão social através do esforço de cada um. A questão é justamente esta: como preparar todos para que os esforços resultem em benefícios generalizados. Como convencer pessoas humildes, descrentes, sem modelos e referências adequados, de que há um caminho para “melhorar de vida” e este passa por momentos de estudo, experiência, dedicação e honestidade?

Como convencer essas pessoas de que a luta de classes não beneficia nenhuma das classes e apenas permite a manutenção no poder daqueles que estimulam este combate inútil? Como criar ambição, a boa ambição, em pessoas que nunca foram incentivadas a acreditar no seu benefício, nunca aprenderam como age alguém ambicioso e nunca compreenderam que aqueles que obtiveram sucesso iniciaram sua caminhada acreditando que conseguiriam e mereciam o que desejavam?

A luta útil, portanto, é aquela para sair da situação atual para outra melhor, mais realizadora, mais produtiva para toda a sociedade. Não precisamos destruir classes para melhorar a sociedade, mas abrir, escancarar as portas para que a entrada (ou, claro, a saída) das “classes” seja facilitada, mas como uma conseqüência dos esforços (ou falta deles) de cada um. Estudou? Dedicou-se? Produziu? Atuou com integridade? Bem vindo, a classe é sua, você merece! Ao invés disso, ficou parado, pouco produziu, zombou da sorte e das oportunidades? Volte uma casa e jogue o dado novamente!

Alguém poderia dizer que há muitas pessoas, muitas mesmo, que estudam e se dedicam bastante, mas, como a realidade seria cruel, sofrem e jamais conseguem melhorar sua condição social. Para estas, assim como para aquela maioria citada acima, descrente e imobilizada, é que serviria a mais pura e simples “educação voltada à auto-estima e ao sentimento de cidadania”. Pelo menos precisam ser informadas, numa linguagem que realmente seja entendida, que existe um caminho e que muitos, também, passaram por ele e já colhem os frutos. Ou seja, um dos segredos seria o sentimento de pertencimento e utilidade em relação à sociedade, à comunidade em que vive. Não bastaria querer apenas para si, mas para todos. Melhorar, sim, mas para servir e sentir-se útil! Ao invés de apenas crescer e melhorar de vida, o que poderia justificar fazê-lo “a qualquer custo”, adotar o sentimento de “crescer e melhorar de vida para poder promover crescimento e melhoria de vida para cada vez mais pessoas”!

Chegamos à conclusão mais determinante: empresas também são assim. Nada de “lucro a qualquer custo”. Isto não promove saúde financeira, administrativa, comercial. Sim, o objetivo passa a ser estabilidade financeira, projeção no mercado, crescimento seguro, responsabilidade administrativa, para, então, gerar mais empregos, educar colaboradores e clientes, influenciar positivamente mais pessoas, gerar, simplesmente, mais felicidade. A empresa que sobrevive nada tem a ver com aquela corporação “capitalista” das cartilhas que incentivam a luta de classes. Ela cria oportunidade de crescimento pessoal de todos envolvidos. Ela é o cenário em que a ascensão social pode acontecer.

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