domingo, junho 27, 2010

A cor da felicidade

O que foi feito das crianças
que agora há pouco aqui brincavam?
E sacudiam seus olhos por todos os pontos,
todas as vírgulas,
todas as rimas
dessa poesia espontânea
que deslizava pelo escorregador do play-ground
e deixava sua marca naquela praia imensa
que, sem oceanos, era apenas uma caixa de areia.

Artistas por natureza, sem o saber,
são a própria lição de viver,
quando mergulham mais fundo na sua própria imaginação,
transformando alguns rabiscos na mais pura emoção.

O que foi feito da ausência de malícia?
Daquele brilho gostoso dos olhos;
da ignorância do que vem a ser polícia
naqueles momentos em que seus corpinhos
se debruçam sobre a virgindade inocente de suas próprias vidas,
que, sem preconceitos, estão contidas
no leito de uma folha de papel,
assumindo as cores de um lápis-de-cor,
as cores de um lápis-sem-cor ou
as cores de um lápis-sem-lápis.


O que foi feito da bola de gude?
Daquele mundinho que, como o pião,
rodava na cabeça daqueles "pequenos",
pintado com as oito cores de um novo arco-íris,
porque, com certeza, eles haveriam de inventar uma nova cor
para colorir a felicidade.

O que foi feito dos pincéis daquelas crianças,
que pintavam o mundo de sua lembrança
e mostravam a esperança de um sonho maior?
Ou sonho real: a eterna infância,
a sobrevivência do humor infantil
ante a infalível maturidade que, sem idade,
saberá fazer rodar o pião
sobre a nova responsabilidade de assistir às novas crianças
colorindo suas vidas num papel,
jogando seus sonhos numa bola de gude,
e construindo sua própria verdade numa cidade imensa
que é apenas seu castelo de areia,
conseguindo sacudir um pouquinho mais
a criança que existe
e persiste
dentro de todos nós.