quinta-feira, julho 02, 2009
Dois caminhos, apenas uma escolha
Recordo sempre uma crônica de Luís Fernando Veríssimo em que ele descreve uma situação fictícia, claro, mas bem-humorada e que nos ajuda a aceitar a vida... Procurei nos "googles" e nos livros que ainda estão comigo e não encontrei, para, aqui, publicá-la integralmente. Segue "minha versão". Homenagem a uma de minhas referências literárias. Até porque na relação de admiração há um certo ódio... Odeio o fato de não ter sido o autor daquele texto...
Mas a história é simples. Ele encontra-se, só, em um bar, desanimado e desiludido com sua vida. Pensa em tantas coisas que poderia ter feito caso suas decisões tivessem sido diferentes... Aí, vê que há outra mesa ocupada. E reconhece a pessoa. É ele, mesmo. Um pouco diferente, mas não há dúvida. Seria ele próprio, na mesa ao lado!
Curioso, aproxima-se e puxa uma conversa. -"Quem é você?"
-"Eu sou você. O você que casou com a Ritinha."
-"O quê?! A Ritinha?! Todos queriam casar com ela! A mais desejada do bairro, da escola, da faculdade! Que maravilha! E como ela está?"
-"Não sei... No início foi ótimo, felizes, fogosos... Mas, depois de alguns anos ela se revelou. Sumia por dias... Sim, me traiu com todos do bairro, da escola, da faculdade... Entrei em depressão. Perdi o emprego. E, agora, estou aqui, jogado neste bar..."
Ainda sob o impacto da revelação, ele vê outra pessoa em outra mesa. É outro "ele", como o primeiro. Não resiste e aproxima-se.
-"Eu sou você. Só que defendi aquele penalti."
-"Não acredito! Escolhi o canto errado e aquilo arruinou minha vida! Larguei a carreira, meus amigos me culparam e muitos se afastaram... E depois?"
-"Foi ótimo! Fui contratado por um grande clube, ganhei muito dinheiro. Depois meu passe foi vendido para um time da Europa. As mulheres me assediavam. Aí, comecei a beber. Muito. Nenhuma droga me satisfazia. Fiquei viciado. Vários escândalos afetaram minha imagem. Em pouco tempo nenhum clube me queria, voltei ao Brasil, joguei na segundona, tentei carreira como técnico, mas nada me salvava... Agora, estou aqui, jogado, sozinho, neste bar..."
Assim, em cada mesa havia um "ele" e todos tinham histórias parecidas. A sala ficou lotada, todas as mesas ocupadas por vários "ele". Ele achava que as decisões que tomara tinham arruinado sua vida, mas as outras decisões haviam provocado problemas muito maiores. Problemas de verdade. O que ele achava que era ruim -sua vida- poderia ter sido muito pior.
Sem arrependimento e culpa. Sua vida passou a ter novo significado.
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