quinta-feira, dezembro 30, 2010

Um em 21.000...


O jornal O Estado de São Paulo, hoje, traz uma reportagem sobre os 30 anos do estúdio de dança de J.C. Violla. Foram 21.000 alunos e, entre 1979 e 1981, eu fui um deles. Uma única sala na rua Alves Guimarães, em Pinheiros, continua a ser, até hoje, o centro deste universo baseado no talento e arte de Violla. Já falei de meu antigo mestre aqui no Desacelere (http://desacelere.blogspot.com/2009/04/j-c-violla.html). Foi um dos discípulos de D. Maria Duschenes e, ao lado de Klauss Vianna e Ivaldo Bertazzo, fizeram a cabeça dos jovens "alternativos" dos anos 1970 e 1980.

Foi uma experiência fundamental, essa convivência -com ele e seus alunos, meus colegas- e tenho até hoje grandes amizades nascidas ali. Eu já escrevia letras de músicas, participava de teatro amador -encontrei fotos de 1979 na net esses dias!- e era aluno da FAU USP! Viver, desde então, foi uma verdadeira arte.



sábado, dezembro 25, 2010

Contradição: seguir ou não as leis ambientais?

Há alguns dias revoltei-me com uma notícia: uma propriedade na Amazônia teria sido declarada improdutiva e sujeita a desapropriação e aproveitamento para “reforma agrária”. Participantes do MST já acampavam e esperavam a decisão. Segundo o texto, a área que não produzia era, justamente, os 80% previstos –e exigidos- em lei como reserva legal, aquele montante que tantos fazendeiros alegam exagerado e, muitas vezes, exploram, sim, derrubando árvores e incorporando plantações e pastos à sua área “produtiva”. Polêmica à parte, o certo é que a lei existe e, neste caso, por cumpri-la, o proprietário perdeu suas terras. É certo, também, que grandes propriedades incluem, na sua essência, injustiças. Concentração de renda e acesso à terra para subsistência são indicadores sociais e, convenhamos, nosso país ainda tem muito a conquistar. E outras vezes, também, e por outro lado, a fazenda pode estar cumprindo sua função social de produzir e gerar riquezas para o país. Mas refiro-me à lei, o Código Florestal, e ainda é claro: 80% da propriedade, sem descontar as APP –áreas de preservação permanente, como margens de rios e encostas-, devem ficar intocados, no bioma Floresta Amazônica.



Ao mesmo tempo, hoje, acabo de ler no jornal O Estado de São Paulo, outra notícia que contém pressupostos exatamente contrários. Treze propriedades à margem da represa Guarapiranga estão sendo remuneradas –sim, recebendo dinheiro do estado!- por preservar suas florestas ao proteger nascentes. Já falei, aqui, de minha participação num evento no RS onde havia especialistas e representantes desta iniciativa, que teve início em 2006.

“Em cinco anos os proprietários devem receber R$ 790 mil em recursos para preservação.”

Leila Matais é proprietária de um sítio e membro do Conselho Gestor da APA Capivari-Monos; foi citada na reportagem de hoje: “O fato de estarmos sendo remuneradas para preservar as nascentes gerou curiosidade nos órgãos ambientais. Aqui, nascentes estão protegidas e lutamos contra ladrões e caçadores”.

No início do mês a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que define uma política nacional para pagamento por serviços ambientais. Considerando a incrível contradição nos dois casos que descrevi, é um longo e difícil caminho a percorrer. Eu, próprio, sugeri, há alguns meses, em reunião que indicaria sugestões de condicionantes ou compensações em anuências da APA da Lagoa Encantada e Rio Almada, a participação de empresas num fundo destinado ao pagamento por serviços ambientais. Poucos consideraram viável e minha sugestão não foi aceita. Hoje vemos que é um caminho possível e eficiente.

domingo, dezembro 05, 2010

O Discurso do Universo

Mais uma homenagem a Marcelo Gleiser, meu colega de ano (nascemos em 1959) e de visão da vida e do universo... Já falei aqui de seu excelente "A Criação Imperfeita" (http://desacelere.blogspot.com/2010/04/dia-da-terra.html) como uma visão alternativa de um físico e escritor que possui talento para se comunicar com os mortais leitores...

Esse texto está publicado hoje na Folha de São Paulo e é exatamente isso: um discurso do Universo, que comunica-se conosco. Vale a leitura!


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Gostaria de começar agradecendo aos membros da raça humana que, usando sua criatividade e diligência, têm aprendido tanto sobre minhas propriedades nos últimos milênios. Neste discurso, para manter a clareza, usarei a noção humana de tempo, a qual, apesar de sua inocência, é bem prática.

Continuo em expansão, como é o caso já há 13,7 bilhões de anos. Confesso que, durante a maior parte desse tempo, me senti bem sozinho.

O silêncio era profundo, nenhuma mente perscrutando os mistérios que criei para me distrair durante a passagem das eras.

Na infância, meu volume era repleto de partículas e de radiação que, devido ao enorme calor e à grande pressão, interagiam furiosamente sem criar qualquer estrutura mais complexa.

Apenas após 400 mil anos surgiram os primeiros átomos. Mesmo assim, só os mais simples estavam presentes- os que os humanos chamam de "hidrogênio" e "hélio".

É verdade que tenho certo xodó pelos humanos. Existem muitas formas de vida espalhadas pelo meu domínio. Embora algumas sejam bem curiosas, a maioria não faz nada mais do que sobreviver. Já nos humanos, encontro aquela mágica que faz toda a diferença, uma apreciação por coisas que vão além do mero sobreviver. Inventaram conceitos como dignidade, respeito e amor, que considero muito criativos.

Talvez sejam eles a razão pela qual outras formas de vida inteligente se autodestroem após atingir uma certa sofisticação tecnológica, enquanto os humanos permanecem vivos.

Esses primeiros átomos de hidrogênio, devido à ação da gravidade, condensaram-se em esferas gigantes, as estrelas. No seu centro, temperaturas de 15 milhões de graus Celsius levam o hidrogênio a virar hélio, o segundo elemento.

É essa transmutação que mudou a minha história. Nada é mais importante do que ela! Dela, estrelas em ignição produzem a energia e a luz que aquecem seus planetas; dela, a vida extrai energia; dela, quando as estrelas se aproximam do fim de suas vidas, outros elementos químicos são formados e distribuídos pelo espaço, tornando a vida possível por todo o meu domínio.

Para o meu deleite, esses humanos entenderam tudo isso em apenas 400 anos. Mesmo assim, adorei ver a cara de alguns de seus cientistas quando descobriram, recentemente, que minha expansão está em aceleração. Acho que estão finalmente entendendo que é melhor manterem suas cabeças abertas e olhar para a Natureza com humildade. Quanto mais estudarem os meus mistérios, mais surpresas encontrarão. Espero que os outros brutos que existem em meu domínio, que passam sua existência lutando e se matando por razões patéticas, aprendam essa lição e comecem a se dedicar à busca pelo conhecimento.

Sei que fui parcial quando deixei a Terra se formar 4,6 bilhões de anos atrás. É mesmo um mundo especial. Estranho que os humanos estejam demorando tanto para entender isso. Especialmente agora, que podem estudar outros mundos. Espero que acordem logo. Nesse meio tempo, continuarei a criar e destruir mundos. Assim, me divirto e inspiro os humanos a aprenderem mais sobre mim. Afinal, preciso ser franco.

Até mesmo eu sou uma invenção das suas mentes.