Li com atenção uma postagem de meu amigo Julio em seu blog Bolinha de Gude (nosso planeta é algo mais do que uma bolinha de gude?). Falava do orgulho que sente por seus pais terem sido contra a ditadura, nos anos 60 e 70, mas via neles uma certa desesperança. Achei interessante aquele rapaz ter pais que provavelmente têm minha idade. Afinal meus filhos têm 10 e 12 anos... Fiz um comentário breve, que transcrevo aqui, a seguir.
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Pude ver, na USP dos anos 70 (!!!), a Libelú. Liberdade e Luta… A luta era por direitos democráticos. Para eleger o reitor da universidade, ou, pois é, o prefeito, o governador… Qual é a luta hoje?
Eu não era um “engajado total” nessa história, pois sentia que a História só seria compreendida quando estivesse nos livros. Ou, quem diria, nos blogs.
E não é que ela está?!
É, o capitalismo, a democracia, têm falhas. Mas, não importa. É a r-e-a-l-i-d-a-d-e. Têm regras. E regras às vezes são seguidas e, graças a Deus, às vezes não são. Cabe a nós, compreendê-las, como ETs, que monitoram essa estranha raça e a estudam.
segunda-feira, novembro 09, 2009
Turismo e transformação social
Com o fortalecimento do "turismo de massa", alguns destinos sofrem com visitantes "inadequados".
- Eu não sabia que teria que caminhar 40 minutos numa trilha para chegar na praia!
- Cadê as cabanas? Cadê a cerveja gelada? E a piscina?
- O sol tá muito quente... As muriçocas estão me atacando... O carro tá sacudindo muito... Isso são férias?
Itacaré e Bonito são bons exemplos. A CVC, principal e maior operadora turística nacional, despeja dúzias de turistas ali semanalmente. São destinos que estão nas capas das revistas de viagens, bem cotadas nos guias especializados e "na boca do povo" que já esteve lá. O pensamento geral é de que a viagem foi "mal vendida", que aquele visitante nunca deveria estar lá e, sim, numa capital, hospedado num hotel de conforto e satisfazendo sua ânsia por civilização.
Mas, para mim, há outra abordagem.
Após minha apresentação no Seminário Internacional de Turismo, em Curitiba, no sábado passado (07/11), foi aberto um breve debate. Além da minha fala, sobre avaliação socioambiental de pousadas, colegas discorreram sobre turismo de aventura e sobre sustentabilidade no turismo. E uma participante expôs uma situação vivida em sua rotina de trabalho em uma empresa de receptivo em Bonito. Com a exposição na mídia dos atrativos dali, muitos resolveram visitar a região sem saber exatamente o que os esperava. Nos questionários de avaliação, por exemplo, é comum anotarem que as estradas de terra que levam aos passeios deveriam ser... Asfaltadas! Todos, ali, reagiram com o mesmo "paradigma": aqueles visitantes estavam no lugar errado. Não eram ecoturistas. Tentei mostrar o outro lado:
- Acredito no poder transformador do turismo. As pessoas estão desarmadas e sob efeito de uma emoção positiva. Por um lado, é muito fácil atender e convencer pessoas que esperam exatamente o que temos a oferecer. O verdadeiro desafio, por outro lado, é envolver e convencer aquelas arredias à nossa mensagem. Não queremos mais ecoturistas?! Não precisamos de mais e mais pessoas com consciência socioambiental?!
Expressões de espanto e de concordância.
- Sim!
- Então, vamos desenvolver nossa arte e nos preparar para trazer aqueles "não-ecoturistas" para o lado dos ecoturistas. Desenvolver estratégias para mostrar a eles que a "vida pode ser bela" ou "a vida pode ser melhor" se a observarmos do ponto de vista do respeito à Natureza, às diversas culturas, à sua própria saúde. É por isso que penso tanto que a arquitetura da pousada pode ser a primeira experiência socioambiental de um "não-ecoturista". É o que, na literatura, chama-se "experiência ecoturística". Ele vai ver climatizadores que não são ar-condicionado, sistemas de ventilação natural, sistemas de descarga sanitária que utilizam menos água, madeira certificada e outras coisas. Mas, se o guia torce o nariz para aquele que chega reclamando, vai criar uma resistência e ele vai voltar para a cidade mais convicto de que essas coisas de meio ambiente são muito desagradáveis...
Acho que consegui que todos ali sentissem uma nova responsabilidade como atores no mundo do turismo.
- Eu não sabia que teria que caminhar 40 minutos numa trilha para chegar na praia!
- Cadê as cabanas? Cadê a cerveja gelada? E a piscina?
- O sol tá muito quente... As muriçocas estão me atacando... O carro tá sacudindo muito... Isso são férias?
Itacaré e Bonito são bons exemplos. A CVC, principal e maior operadora turística nacional, despeja dúzias de turistas ali semanalmente. São destinos que estão nas capas das revistas de viagens, bem cotadas nos guias especializados e "na boca do povo" que já esteve lá. O pensamento geral é de que a viagem foi "mal vendida", que aquele visitante nunca deveria estar lá e, sim, numa capital, hospedado num hotel de conforto e satisfazendo sua ânsia por civilização.
Mas, para mim, há outra abordagem.
Após minha apresentação no Seminário Internacional de Turismo, em Curitiba, no sábado passado (07/11), foi aberto um breve debate. Além da minha fala, sobre avaliação socioambiental de pousadas, colegas discorreram sobre turismo de aventura e sobre sustentabilidade no turismo. E uma participante expôs uma situação vivida em sua rotina de trabalho em uma empresa de receptivo em Bonito. Com a exposição na mídia dos atrativos dali, muitos resolveram visitar a região sem saber exatamente o que os esperava. Nos questionários de avaliação, por exemplo, é comum anotarem que as estradas de terra que levam aos passeios deveriam ser... Asfaltadas! Todos, ali, reagiram com o mesmo "paradigma": aqueles visitantes estavam no lugar errado. Não eram ecoturistas. Tentei mostrar o outro lado:
- Acredito no poder transformador do turismo. As pessoas estão desarmadas e sob efeito de uma emoção positiva. Por um lado, é muito fácil atender e convencer pessoas que esperam exatamente o que temos a oferecer. O verdadeiro desafio, por outro lado, é envolver e convencer aquelas arredias à nossa mensagem. Não queremos mais ecoturistas?! Não precisamos de mais e mais pessoas com consciência socioambiental?!
Expressões de espanto e de concordância.
- Sim!
- Então, vamos desenvolver nossa arte e nos preparar para trazer aqueles "não-ecoturistas" para o lado dos ecoturistas. Desenvolver estratégias para mostrar a eles que a "vida pode ser bela" ou "a vida pode ser melhor" se a observarmos do ponto de vista do respeito à Natureza, às diversas culturas, à sua própria saúde. É por isso que penso tanto que a arquitetura da pousada pode ser a primeira experiência socioambiental de um "não-ecoturista". É o que, na literatura, chama-se "experiência ecoturística". Ele vai ver climatizadores que não são ar-condicionado, sistemas de ventilação natural, sistemas de descarga sanitária que utilizam menos água, madeira certificada e outras coisas. Mas, se o guia torce o nariz para aquele que chega reclamando, vai criar uma resistência e ele vai voltar para a cidade mais convicto de que essas coisas de meio ambiente são muito desagradáveis...
Acho que consegui que todos ali sentissem uma nova responsabilidade como atores no mundo do turismo.
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