quinta-feira, novembro 04, 2010

Sombra


"O Efeito Sombra" é um livro que, à primeira vista, parece-se com tantos outros esquecidos nas prateleiras de auto-ajuda nas livrarias. Deepak Chopra é um consagrado escritor e, nesta obra, é o que parece ser: empresta seu nome, escreve um terço do texto e alavanca as vendas. O terço final do livro é escrito por Marianne Williamson, escritora e palestrante veterana, e utiliza uma linguagem mais rebuscada e com viés religioso. A grande novidade e grata surpresa é o "miolo", prensado entre dois grandes nomes, o capítulo de Debbie Ford. Debbie é a calora do trio, mas com uma escrita vigorosa e com uma capacidade diferenciada para simplificar e convencer.

"Sombra", para eles -e, de alguma forma, para a psicologia-, é algo que todos possuímos: o lado obscuro, os segredos, os sentimentos reprimidos e os impulsos ocultos. A ideia é que o agente de repressão somos nós mesmos. Guardamos numa gaveta, ou no sótão, algo sobre nós que não queremos que os outros conheçam. E fingimos que aquilo não existe. Normalmente tratam-se de qualidades consideradas negativas, mas pode ser um dom especial, um talento, um bom sentimento do qual temos vergonha ou desprezo.



Debbie descreve a sombra com clareza e, mais do que isso, mostra como ela atrapalha as vidas das pessoas e como utilizá-la para conseguir uma vida mais plena. Assim: assuma sua sombra, ela realmente existe e não adianta negá-la. Entenda que o segredo é não deixá-la se apoderar de sua consciência. Como? Percebendo como ela atua e os efeitos que refletem sua ação.

Pense em alguém que te incomoda. Você não aguenta seu jeito de falar, tratar os outros, resolver problemas. Sim, pense agora. Visualize uma pessoa com quem tenha tido um atrito ou que você tenha criticado recentemente. Não continue a ler sem imaginar alguém assim. Muito provavelmente esta pessoa não passa despercebida por você justamente por refletir a sua sombra. Ela te incomoda porque você vê, nela, as características que também pertencem a você. A sua sombra.

"Somos programados para projetar em outras pessoas as qualidades que não conseguimos ver em nós. Aquilo que julgamos ou condenamos em outro é uma parte rejeitada de nós mesmos."

É, não é fácil admitir que, de alguma forma, somos parecidos com pessoas que tanto desprezamos. Há uma boa notícia aí. O primeiro passo para sair desse "transe" -Debbie Ford usa esse termo- é perceber aquela identificação indesejada e assumir a sombra. Ela é sua e não precisa ficar guardada, escondida. Você não precisa fingir ser alguém que não é.

A segunda boa notícia é que, segundo Debbie, tudo isto vale para a relação de admiração. Há um ídolo que mexe com você? Uma referência, um profissional que te inspira? Você pode estar entrando em contato com seus próprios talentos, ainda inativos. Alimente-os e verá.

"O processo de reparação envolve coragem, compaixão e honestidade com você mesmo: 'Eu levanto esse assunto. Percebo que é uma mágoa minha. Estou disposto a olhar para isso e disposto a mudar'. Em uma situação difícil é muito mais fácil jogar a culpa nos outros."