domingo, julho 05, 2009

Freud, liderança e política


Freud escreveu a Einstein, em 1932. O assunto era a guerra e ele especulava sobre o que poderia fazer um indivíduo realmente "destrutivo". E afirmou que havia dois tipos de homens: líderes e liderados. Muito poucos seriam os líderes e muitos seriam os liderados.

Sérgio Telles, psicanalista, escreveu, neste domingo no Estadão, referindo-se àquela correspondência e transportando-a aos dias de hoje. Ele recorda que, apesar de concordar que melhores níveis de escolaridade podem fazer diferença, escolher maus políticos não é exclusividade do subdesenvolvimento. Cita, como exemplos, Bush e Berlusconi.

Ele apresenta uma teoria em que a escolha do eleitor é "permeada por uma forte irracionalidade". Ou seja, seria uma escolha irracional, inconsciente. Portanto, Freud pode nos auxiliar a compreender esse processo. E ele explica.

Para Freud, o líder é pessoalmente identificado como uma forte figura paterna. E o grupo se reúne como irmãos a serem comandados por "esse pai poderoso de quem demanda amor e proteção".

Telles afirma, então, que Freud parece dizer que a grande maioria dos homens prefere e deseja ser comandada. Seriam desejos infantis -"infantilismo regressivo"- de um pai forte e poderoso, trocando, assim, independência e autonomia por proteção.

A escolha democrática, então, fica comprometida. Não pelo nível de escolaridade, mas pela tendência humana pela submissão em troca de afeto e proteção. A "destrutividade" citada por Freud na carta a Einstein, não seria bélica, nos dias de hoje. Para Telles, expressa-se como corrupção. Seria uma "manifestação predatória e fanática" do poder, desrespeitando a coletividade e colocando milhões na miséria e no desamparo.

Ainda assim, o psicanalista não vê sistema melhor que o democrático e que devemos lutar para que os eleitores se apropriem de seus direitos civis e que saibam reconhecer a diferença entre a escolha objetiva e a fantasia de reencontrar a proteção perdida.