Publicado originalmente na revista Entre Aspas, edição 2, 12/2008.
Ótimo! Você viu o título e resolveu ler. Obrigado. Então continue e entenda porque apesar de ser bem vindo a esta leitura, ela não é, exatamente, para você... O grande desafio de quem atua na educação e comunicação socioambiental é atrair pessoas que, sistematicamente, vivem, consomem, descartam, utilizam energia , transitam, alimentam-se, reproduzem-se, sem perceber que suas atitudes interferem no ambiente e, claro, em toda a sociedade. Eles não lêm artigos sobre meio ambiente, mudam de canal quando o assunto é desmatamento e jamais estiveram em um seminário sobre sustentabilidade... Eles são muitos. Muitos, mesmo. Uma multidão. A grande maioria das pessoas. A sensação é de um passo à frente e, de repente, vários passos atrás, quando se trata de conquistas na consciência socioambiental coletiva. Essa questão envolve raízes culturais e a difícil relação entre o individual e o coletivo e, por isso mesmo, não podemos culpá-los.
Precisamos considerar a desinformação socioambiental como mais uma das desinformações que assolam nossa sociedade. Ela não é maior, por exemplo, do que a cultural, a política, a econômica... Muito mais do que suas escolhas políticas, essa multidão mantida desinformada define seus caminhos através de sua ação cotidiana. Os governos, gestores públicos e legisladores , de qualquer bandeira política, reagem às organizações sociais, principalmente as espontâneas e elaboram (ou corrigem) políticas públicas e leis na medida em que haja efetiva sensibilização social evidenciada, justamente, nas ações cotidianas. Sim, os representantes no poder deveriam ter iniciativas utilizando conhecimento científico e experiência de uma equipe técnica isenta politicamente, mas não é assim que essa estrutura tem funcionado e, além disso, não podemos simplesmente aguardar que as decisões sejam tomadas, “torcer” para que sejam eficientes e reagir apenas quando nos sentirmos prejudicados. A atitude preventiva, então, é essencial e ela acontece na... Ação cotidiana. Mas estamos falando da atitude coletiva, em bloco e, como já vimos, é ameaçada pela desinformação e reflete no que as pessoas fazem com o lixo, como cuidam das praias, como consomem energia, onde jogam seu esgoto, para falar de questões próximas. E, numa abrangência mais ampla, como se organizam para fazer com que suas áreas protegidas cumpram seus objetivos e como ajudam a estimular a criação de ocupação e renda para que populações que vivem em áreas naturais não precisem da lenha e da caça para viver, por exemplo.
O que, então, pode fazer a diferença?! Qual seria a melhor forma de cativar aquela multidão e envolvê-la num desafio comum de compreender o quanto suas atitudes podem influenciar os outros e, assim, criar um “exército de bem informados”? Como conversar com todos ao mesmo tempo e transmitir mensagens tão importantes? Como despertar um grupo tão grande para a importância dos recursos naturais mesmo para a população urbana? Como evitar que a primeira e única forma de consciência seja o sofrimento decorrente da escassez ?
A estratégia. Meios e linguagem devem ser adaptados e adequados ao público inicialmente avesso a esse conteúdo. O que eles ouvem? Em quem eles acreditam? Quem são seus ídolos? O que os motiva a parar o que estão fazendo e prestar atenção? Podemos enumerar uma série de medidas que todos devem tomar para tornar sua pegada ecológica menos destrutiva, mas o desafio está em, definitivamente, incorporar essas medidas no cotidiano de multidões.
Chega de palestras, capacitações, treinamentos... Precisamos de criatividade para mostrar a todos que o desenvolvimento social, econômico, humano, depende dos recursos naturais e precisa utilizá-los com responsabilidade; existe um limite para essa utilização e que, quanto mais próximos estivermos dele, maior o sacrifício a que estaremos expostos; mesmo aqueles que não usufruem diretamente dos rios, florestas e manguezais, como os moradores de cidades, já sentem na pele e no bolso os efeitos da falta de água e da crise social causada pela diminuição das oportunidades de renda devido à redução descontrolada de vegetação às margens dos rios e seu conseqüente assoreamento.
Teatro popular, programas de rádio, artistas e esportistas, então, podem ser canais de comunicação preciosos na comunicação com o consciente coletivo. É o merchandising socioambiental. E, mais uma vez na história da humanidade, a diferença vai estar na... Criatividade!
sábado, janeiro 10, 2009
Faça o que quiser. Não estou nem aí!
É essa a mensagem que as pessoas passam a seus políticos. Eles? Obedecem.
Estive ontem em Itapebi e Mascote. Dois pequenos municípios no interior da Bahia. Estamos assessorando a elaboração de seus Planos Diretores, aquela lei que determina como a cidade deve funcionar, como ela deve se desenvolver. O Estatuto da Cidade, uma lei federal de 2001, diz que este processo deve ser "participativo". Temos seguido um método que convida a população e seus representantes -prefeito, vice, secretários e vereadores- a participar, em audiências e oficinas. As mais importantes já aconteceram. Ontem, a conversa era justamente com os "representantes".
Devidamente convidados, prefeitos e vices não compareceram. Estiveram lá seus Chefes de Gabinete. Em Mascote (foto), 3 secretários municipais e 4 vereadores (são 9, em ambos os municípios). Em Itapebi, 4 vereadores e 1 representante de secretário. Claro, é muito pouco, considerando a importância do tema, mesmo levando em conta eventuais dificuldades de comunicação e mobilização.
Uma professora, de Mascote, questionou com razão:
- Não adianta a gente participar das oficinas, passar um dia inteiro discutindo, se prefeito e vereadores não tiverem consciência da importância do Plano Diretor!
Ela mostrava a insatisfação com a postura dos políticos. Em geral. Sem saber, estava se referindo a um modelo de "político" que se materializa em todos os cantos deste nosso Brasil. Mas, acrescentei pimenta na conversa:
- Fora algumas exceções -aquela professora, por exemplo-, a mensagem que a sociedade envia a seus representantes, é: faça o que você quiser, não estou nem aí. Eles, simplesmente, obedecem...
Expliquei meu pensamento. Tivemos muuuuuuita dificuldade para reunir cidadãos para as oficinas e debater melhores caminhos para os municípios. Poucas pessoas, baixa representatividade. Entendo, mesmo, a descrença nas instituições. Mas um lado importante do círculo vicioso é a passividade da sociedade perante a inoperância eventual do poder público. Por quê vereadores e prefeitos vão se preocupar com algo que a própria população não dá bola? A passividade é cultural, ancestral, criada pelo clientelismo e coronelismo, quando o poder público era o grande -e único- provedor. Até hoje, a maioria das pessoas fica, apenas, esperando e torcendo para que os políticos tomem atitudes e organizem políticas públicas que funcionem... As pessoas devem e podem ser, sim, atores presentes na gestão pública.
Quebrar esse vício operacional é tarefa das atuais gerações. Para mim, expliquei, há 2 formas de comunicação com seus representantes:
A primeira é através da organização social. Sem agressividade, sem idealismo barato ou radicalismo. Planos Diretores geralmente organizam Conselhos da Cidade. Antes disso, cidadãos devem se organizar em associações de bairro, cooperativas, instituições e "conversar muito" com vereadores e prefeitos. Fazê-los, pelo menos, conhecer o que a população pensa.
A segunda forma de enviar mensagens é o voto. Escolher representantes que tenham tido atitude ou intenção declarada de conhecer e respeitar prioridades demonstradas pelas pessoas.
Senão, eles vão, simplesmente, obedecer às mensagens e... Fazer o que bem entenderem.
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