Olho para todos os lados e quase só vejo pessoas impacientes.
As redes de contatos que se formam são aleatórias. Às vezes estamos frente a frente com alguém e sequer percebemos quem verdadeiramente é aquela pessoa. O que pensa, o que sente, que fantasmas carrega e em que momento está. Alguém numa recepção, ou um frentista no posto de gasolina. Um cliente ou, então, alguém que pensamos contratar para uma pequena reforma ou consertar um televisor.
Cada um com seus problemas, não é?!
Perceber o outro não quer dizer carregá-lo no colo. Muitas vezes, exatamente pelo contrário. Pode ser para... Evitá-lo. Para não confrontá-lo. Para, justamente, compreender que um possível rancor, uma possível explosão ou, ao invés disso, uma súbita demonstração de afeto, pode ser algo que, sim, diga respeito apenas ao outro. É parte da história dele e suas setas -de cupido ou cheias de veneno- dirigem-se ao mundo e, não, a você.
Quanto mais nos fechamos em nossos próprios modelos, mais acabamos nos envolvendo como se tudo que acontece em nossa volta fosse a nós direcionado. Absorvemos, lutamos, reagimos, perdemos considerável energia num processo que não nos diz respeito.
O "outro" tem, sim, seus problemas. Ele deve procurar resolvê-los.
Eu, no meu lado, reconheço isso e não "sofro" como se flechas fossem enviadas em minha direção. Sei que não sou o alvo. Distancio-me o suficiente para, inclusive, colaborar com a solução do problema.
A impaciência, então, parece surgir da falta de compreensão. De si próprio e da realidade dos outros. Da nossa própria dimensão no mundo (insignificante) e daquilo que, no outro, nos incomoda.
Aprendi que se algo em alguém nos incomoda -e nos deixa impacientes-, é porque aquilo faz parte, também, de nossos modelos. São, também, fantasmas de nossa coleção! Podem estar disfarçados, escondidos, com uma roupagem diferente, mas estão em nossa coleção!
Observe o que te impacienta. Pode ser uma boa forma de começar a fazer uma lista de seus fantasmas!
Em tempo: além disso, o "superconsumismo" nos cria uma cachoeira de desejos insaciáveis e nos deixa frustrados e, sim, impacientes... Deixamos de buscar o que verdadeiramente nos completaria e ficamos a esperar o que jamais virá. Parece, então, razoável, refletir sobre o que realmente podemos -e devemos- esperar do mundo, das pessoas, da vida. E agir, planejar, estudar, preparar-se, trabalhar, merecer... (acrescentado em 30/11)