domingo, maio 15, 2011

Chimpanzés um pouco diferentes


Já mostrei aqui uma interessantíssima entrevista com Jared Diamond, autor do excelente "Colapso". Retorno a este biólogo e cientista com a reflexão que ele próprio oferece em sua obra "O Terceiro Chimpanzé".

Para ele -e a partir de diversas pesquisas que ele cita- a humanidade tem pago um preço alto justamente pelas conquistas de que mais se orgulha. A evolução tecnológica, desde as mais rudimentares ferramentas ao mais moderno computador, assim como a imensa sequência de inovações nas técnicas agrícolas seriam "facas de dois gumes". A agricultura é um evento recente, na história da humanidade. Apenas surgiu há 10 mil anos (em mais de um milhão de anos de existência da espécie).

Quando nossos singelos 1,6% de genes que são, efetivamente, diferentes de nossos parentes, os chimpanzés, fizeram a diferença, pudemos abandonar a condição de coletores-caçadores e aventurarmo-nos na tecnologia. Coletores-caçadores buscavam na natureza seu alimento. Caçavam, e não criavam animais. Coletavam raízes e frutas, e não plantavam em hortas ou plantações como as vemos aos montes atualmente. Ou seja, o tempo todo estávamos envolvidos nas tarefas relacionadas à alimentação. Com ferramentas e com a agricultura, Jared lembra que surgiu, também, o tempo ocioso.

Ótimo! Foi a condição necessária para o desenvolvimento das artes, por exemplo (quem iria dedicar-se a pinturas, ou música, se estivesse com fome?!) e das linguagens.

Aos poucos, passamos a viver mais e o conhecimento foi sendo transferido às novas gerações que até então, sem sábios -sempre pessoas mais velhas-, precisavam reinventar a roda a cada geração.

O outro lado da moeda, para o autor, foram a criação da exploração do homem pelo homem, a divisão da sociedade em classes, a política, a desigualdade social e de gênero, as doenças e o despotismo. Aquele "tempo ocioso" acabou sendo usado na forma de comportamentos que afligem a existência humana moderna e que acabam sendo alguns dos principais diferenciais da espécie humana em relação aos demais primatas, outros descendentes de um ancestral comum.

"Dentre nossas qualidades singulares há duas que atualmente põem em risco nossa existência; a nossa propensão a matar nossos semelhantes e a destruir o meio ambiente. (...) Estas propensões são muito mais ameaçadoras em nós do que em outros animais devido ao nosso poder tecnológico e à nossa alta densidade populacional".

O livro é longo, cativante e aborda a evolução e o futuro do ser humano sob vários ângulos. Mais uma oportunidade de melhorar a visão de nossa verdadeira dimensão no universo...