Ao final de uma avaliação física sempre pergunto:
- Qual, então, é seu objetivo com suas atividades físicas? Quero ouvir de sua própria voz.
Na avaliação física, pelo menos a que me acostumei a realizar, há, sim, a inevitável sessão de medidas -circunferências corporais, dobras cutâneas, peso, altura, flexibilidade- e uma completa anamnese -várias perguntas sobre histórico familiar, medicamentos, lesões, cirurgias, alimentação, histórico esportivo... Mas o "ponto alto" é a pergunta acima.
A entonação de voz, os olhares, a respiração, trejeitos e linguagem corporal funcionam como um imenso canal de comunicação. Em segundos há uma retrospectiva de uma vida inteira e o enfrentamento da realidade. Mas há alguns que se surpreendem com o questionamento.
- Ué? Saúde, né?
E só. Mas eu investigo.
- Sim, saúde, ótimo. É um bom começo. Mas, o quê mais?
- Só isso. Saúde. Não é para isso que eu estou aqui? Me falaram que é bom para a saúde. Então eu vim.
Normalmente, são pessoas com pressão arterial alterada, ou sintomas de angina, excesso de peso, colesterol elevado, insônia, prisão de ventre, depressão, dificuldade de respirar, dores nas costas. Ou vários destes sintomas. Inclusive, durante a anamnese, falamos deles, dos medicamentos, das dificuldades que causam.
Mas são pessoas que temem enfrentar esta realidade. E, por não assumirem o que pretendem mudar, dificultam, justamente, o processo de transformação a que têm direito quando iniciam um programa de exercícios. Sim, eles obedecem filhos, esposas -ou maridos- e, pacientemente, propõem-se a ir à hidroginástica. Para quê?
- Saúde.
Ficam surpresos quando eu apresento uma série interminável de benefícios que eles deverão perceber conforme se dedicarem a suas atividades físicas. Mais do que prevenção -afinal, são pessoas que na maior parte dos desequilíbrios físicos precisam reduzir seus efeitos e, não, prevení-los-, vão sentir um sono mais tranquilo, pressão arterial mais estabilizada, ânimo, menos dores...
Faltam-lhes objetivos. A primeira necessidade para se obter sucesso numa tarefa. Daí a grande importância daquele momento, daquela resposta. Eu procuro, então, criar objetivos, mostrar que são possíveis. Que são necessários. Que há tempo para se experimentar resultados e, juntos, conseguiremos.
- Vamos acompanhar sua pressão arterial. Ela deve reduzir, estabilizar e, até, permitir uma redução da dose de seu medicamento. O sono deve melhorar. A respiração, então, muito, mesmo. Mas preciso de sua dedicação e paciência.
E fico torcendo.