sábado, janeiro 10, 2009

Faça o que quiser. Não estou nem aí!


É essa a mensagem que as pessoas passam a seus políticos. Eles? Obedecem.

Estive ontem em Itapebi e Mascote. Dois pequenos municípios no interior da Bahia. Estamos assessorando a elaboração de seus Planos Diretores, aquela lei que determina como a cidade deve funcionar, como ela deve se desenvolver. O Estatuto da Cidade, uma lei federal de 2001, diz que este processo deve ser "participativo". Temos seguido um método que convida a população e seus representantes -prefeito, vice, secretários e vereadores- a participar, em audiências e oficinas. As mais importantes já aconteceram. Ontem, a conversa era justamente com os "representantes".

Devidamente convidados, prefeitos e vices não compareceram. Estiveram lá seus Chefes de Gabinete. Em Mascote (foto), 3 secretários municipais e 4 vereadores (são 9, em ambos os municípios). Em Itapebi, 4 vereadores e 1 representante de secretário. Claro, é muito pouco, considerando a importância do tema, mesmo levando em conta eventuais dificuldades de comunicação e mobilização.

Uma professora, de Mascote, questionou com razão:

- Não adianta a gente participar das oficinas, passar um dia inteiro discutindo, se prefeito e vereadores não tiverem consciência da importância do Plano Diretor!

Ela mostrava a insatisfação com a postura dos políticos. Em geral. Sem saber, estava se referindo a um modelo de "político" que se materializa em todos os cantos deste nosso Brasil. Mas, acrescentei pimenta na conversa:

- Fora algumas exceções -aquela professora, por exemplo-, a mensagem que a sociedade envia a seus representantes, é: faça o que você quiser, não estou nem aí. Eles, simplesmente, obedecem...

Expliquei meu pensamento. Tivemos muuuuuuita dificuldade para reunir cidadãos para as oficinas e debater melhores caminhos para os municípios. Poucas pessoas, baixa representatividade. Entendo, mesmo, a descrença nas instituições. Mas um lado importante do círculo vicioso é a passividade da sociedade perante a inoperância eventual do poder público. Por quê vereadores e prefeitos vão se preocupar com algo que a própria população não dá bola? A passividade é cultural, ancestral, criada pelo clientelismo e coronelismo, quando o poder público era o grande -e único- provedor. Até hoje, a maioria das pessoas fica, apenas, esperando e torcendo para que os políticos tomem atitudes e organizem políticas públicas que funcionem... As pessoas devem e podem ser, sim, atores presentes na gestão pública.

Quebrar esse vício operacional é tarefa das atuais gerações. Para mim, expliquei, há 2 formas de comunicação com seus representantes:

A primeira é através da organização social. Sem agressividade, sem idealismo barato ou radicalismo. Planos Diretores geralmente organizam Conselhos da Cidade. Antes disso, cidadãos devem se organizar em associações de bairro, cooperativas, instituições e "conversar muito" com vereadores e prefeitos. Fazê-los, pelo menos, conhecer o que a população pensa.

A segunda forma de enviar mensagens é o voto. Escolher representantes que tenham tido atitude ou intenção declarada de conhecer e respeitar prioridades demonstradas pelas pessoas.

Senão, eles vão, simplesmente, obedecer às mensagens e... Fazer o que bem entenderem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário