Boquiaberto, minha primeira reação foi achar que era uma brincadeira. Não era. Refiz a frase, mentalmente, na esperança de que tinha confundido seu significado. Talvez ele tivesse se atrapalhado e colocado um não onde havia um sim, ou vice-versa. Nada disso. A pergunta era aquela e ele esperava uma resposta.
Eu acabara de dizer que a leitura pode ser um passaporte. Qualquer leitura. Das mais simples às saramaguianas. Eu pensei em explicar. Poderia dizer que o ato de ler vai além de aprender ou adicionar informações ao cérebro. Ao ler acrescentamos modelos de comunicação ao nosso repertório, palavras e expressões ao nosso vocabulário, novas emoções ao nosso coração. Eu poderia fazê-lo refletir na importância do preparo antes da ação, do desenvolvimento da capacidade de prever e planejar estratégias, de imaginar situações, de "viver antes" o que será vivido a seguir.
Não vou identificar o autor da frase, embora pareça desnecessário, se o fosse para que ele não se sentisse ofendido. Pelo jeito, ele não vai ler esse texto. Ele vai continuar reclamando da timidez, das dificuldades no casamento, dos problemas financeiros, tudo causado pelas contingências do mundo e da vida e, claro, nunca devido às suas próprias decisões do passado. Para ele, a solução é mudar o mundo e os outros. E, claro, nunca ficar parado fazendo coisas inúteis como, por exemplo, ler.
Mostrei os dois últimos livros que li. -Mas são em inglês?!
Falei de leitura de romances, histórias de mistério, biografias, aventuras, histórias da história. -Ah, só leio coisas que possa usar no trabalho!
Uma vida parada, estacionada com motor desligado e porta aberta. Perguntei quais eram seus objetivos e suas metas para daqui a cinco anos. -Cinco anos?! Como assim?!
Fica claro que se essa pessoa conhecesse os benefícios da leitura jamais pensaria assim.
ResponderExcluirQue pena que alguém entenda que ler é perda de tempo!
E por falar em leitura, você tem um livro para me emprestar.