sexta-feira, março 19, 2010

Ação local, efeito global

Tenho refletido bastante a respeito dos icebergs. Não, não estou me referindo ao derretimento de blocos de gelo e a variação do nível dos oceanos. No "ambientalismo" há "pontas" visíveis e "uma imensidão de gelo" submersa e invisível. Sim, a este respeito há muito mais a se pensar do que interesses pessoais, individuais e, mesmo, ambientais locais. Estes, seriam as pontas de um grande iceberg.

"Think global, act local" foi uma ideia criada por Patrick Geddes em 1915! Faz sentido. Não adiantaria falar e falar dos problemas do planeta se não houvesse soldados a atuar nos fronts do desmatamento, da poluição do ar, dos resíduos das cidades...

Mas, também, é uma frase que pode confundir, ou ser utilizada para defender interesses extritamente individuais. Pode, então, incentivar o mais puro dos sentimentos inerentes à alma humana: o egoísmo. Cidadania ainda é uma arte retraída, tímida, uma solução a ser descoberta. Cuidar do que é de todos ainda é, infelizmente, um "mico" da modernidade.



Desde os primórdios de minha educação há registro da observação firme e melancólica de que o Brasil perdeu, literalmente, o trem da história ao optar pelas estradas, automóveis e caminhões. A economia adaptou-se, as indústrias se planejaram e, hoje, praticamente tudo que você está vendo agora -faça uma pausa e observe a seu redor- chegou até sua casa de... Caminhão! Isto significa uma imensa "pegada ecológica" e um custo desnecessário.



Estradas de ferro e portos são, ainda, em sua maioria, sucatas. "Cabotagem" é uma expressão desconhecida. Além de ser um título de um livro de memórias de Jorge Amado ("Navegação de Cabotagem"), significa navios carregados de bens que são produzidos em uma região e consumidos em outra, levando-os de porto a porto, inclusive fluviais, poupando estradas e combustível. Um navio equivale, em média a 684 carretas! Numa viagem de São Paulo a Belém consumiria 260 mil litros de combustível e as carretas, 1 milhão de litros... Sem falar nos acidentes, despesas com hospitais e as perdas de vidas, no desmatamento e na poluição. Ferrovias, também, são reconhecidas como eficientes meios de transporte, limpos e seguros. E há muito tempo clamamos por uma nova política de transportes. A mudança teria que ser gradual, mas os primeiros passos teriam que ser firmes. Seriam novos paradigmas e, claro, provocariam abalos em velhas estruturas.



E eis que numa certa região do Brasil (por coincidência, a terra de Jorge Amado) projeta-se a construção de um porto, onde seria uma das pontas de uma nova e moderna ferrovia. Tudo o que ambientalistas esperaram por toda sua vida. Vanguarda, economia, preservação de recursos naturais... Festas? Comemorações? Agradecimentos? União? Mobilização social para ajustar as necessidades da região às mudanças que chegarão?

Não.



Conflitos baseados em interesses intimistas, extremamente pontuais, têm sido deflagrados. É a ponta do iceberg. Há razão, sim, para muita atenção às ações, aos impactos, ao aumento da demanda por habitação, educação, saúde, energia, segurança e, claro, atenção para que não haja efeitos desnecessários sobre quaisquer recursos naturais e que eles possam, inclusive, receber maior proteção e ações de recuperação. Para isso, também, são criadas áreas protegidas. Para criar uma cultura, uma consciência que permita o debate com isenção e superior pensamento em considerar todo o "bloco de gelo" e, não , apenas sua ponta. A ponta é a visão pequena de que há impactos locais e eles inviabilizariam qualquer alteração, intervenção. O bloco total são os imensos benefícios nacionais e globais que podem advir deste novo paradigma, que deve ser, então, incentivado e monitorado.

É um ponto de vista. Simplesmente.

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