sexta-feira, fevereiro 19, 2010
Veneno tem gosto de mel
Por que o veneno tem gosto de mel?
Raul Seixas. Uma pérola de Raulzito. Sim, tem o dedo de Paulo Coelho, mas, na época, era Raul quem bancava a inspiração. E veio esta frase, perdida em meio a uma letra óbvia, simplista, rebelde e anti-religiões.
Pense. Veneno. Mel. Nada mais ameaçador à vida, à felicidade, ao equilíbrio, do que o veneno. Substância fatal, muitas vezes desconhecida. E poucas coisas são tão sedutoras como o mel. A maçã, talvez. Mas a doçura produzida pelas abelhas é referência em prazer do paladar.
O que mata, o que destrói, o que desequilibra, muitas vezes tem doce sabor. O preço do breve prazer, do êxtase das papilas gustativas, pode ser a destruição. Mas o que faz do mel um veneno? Simples. O exagero. A insistência. A repetição. O vício. A dependência. É crer que a felicidade pode estar num breve prazer e, pior, numa reles substância. O mel.
Veneno é o orgulho, que nos ilude com a doce sedução de poder. Veneno é o julgamento, que nos lambuza e nos faz sentir superiores à grande energia criadora. Veneno é a preguiça, que nos deixa inertes e embevecidos na lenta agonia do mundo paralelo. Veneno é o cigarro, a gordura, o stress, o sal...
Veneno é a inércia. É não fazer nada para mudar. O mel é a falsa segurança de ficar onde está. É o falso prazer do conhecido e do esperado.
Mas há, sim, mel que não envenena. Mel com verdadeiro sabor. Mel que não abusa da sedução fácil. É o prazer contido na compaixão e na aceitação. É o doce sabor de respeitar cada um pela frente e trabalhar pelo sucesso de todos.
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