Eduardo Bueno, em seu livro "A Coroa, a Cruz e a Espada", explica as origens de um Brasil corrupto e burocrata. Entre outras coisas, relata a formação das primeiras vilas em território da então América Portuguesa. O que ressalto é que, já naqueles anos que sucederam o desembarque de Tomé de Souza, em 1549, aqui na Bahia, o desenho do "ambiente urbano" era ofendido por uma terrível atitude de desrespeito ao coletivo. A primeira coisa que faziam, ao construir suas casas de dois pavimentos, era projetar um terraço sobre o passeio ou a estreita via típica daquela época. Não importava se a via era pública, de todos, e que aquela projeção era individual. Aceitava-se esta invasão porque, quando tivessem uma casa como aquela, fariam do mesmo jeito.
Era um sinal de que, anos, séculos mais tarde, ainda teríamos muita dificuldade em ensinar nossas crianças o verdadeiro sentido do "espírito coletivo". O lixo na rua, o som do carro a todo volume, o esgoto despejado no rio (ou na sarjeta) e, claro, as tradicionais varandas sobre o passeio estão aí para ensinar que "o problema é dos outros"...
Como podemos pensar em "educação ambiental" num universo como este? Como explicar a um jovem que ele cria problemas a muitas outras pessoas ao retirar matas das margens de um rio para criar animais?! Como trazer à luz um cidadão que não se sente responsável pelo ambiente em que vive, nem em sua casa, sua rua ou bairro?! Como preparar crianças para defender o que é de todos, sem que se sintam inocentes úteis?!
Dinâmicas de compreensão da importância do coletivo já são utilizadas em "tratamentos de choque" para equipes de empresas e o que precisamos é de um "choque" de coletividade na formação de crianças e jovens. Tema transversal em todas as disciplinas: coletividade.
Educadores físicos já atuam, alguns intuitivamente, nesta direção. Não é à tôa que o esporte e as atividades pré-desportivas são tão valorizadas como elementos de inclusão social.
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