domingo, julho 15, 2012

Farinha do mesmo saco


Expressões tradicionais nos ensinam muito sobre o ser humano. Farinha do mesmo saco, por exemplo, pode significar que, se somos iguais, como commodities, estaremos juntos -no mesmo saco. Em outros “sacos” estarão milho, café, cacau, mas, não, farinha. Ou seja: somos iguais, queremos ficar e estaremos juntos. Parece óbvio. Amantes de rock reúnem-se para ouvir rock e, não, música sertaneja.

Duncan Watts, em “Tudo é Óbvio – Desde que você saiba a resposta”, apresenta uma leitura enriquecedora sobre este tema. Claro, uma visão que interessa a empresários, políticos, comunicadores, professores, cientistas e, ora, todo mundo! Da obviedade da expressão “farinha do mesmo saco”, do parágrafo anterior, ele nos lembra outra que, seguramente, você já deve ter ouvido e falado –algumas vezes: “os opostos se atraem”! A moça educada, estudiosa, recatada envolve-se com o rebelde, o conquistador, aquele que o “senso comum” chamaria de mau caráter. 

É, você terá que se decidir. Ou os opostos se atraem, ou as farinhas ficam no mesmo saco. O que Watts diz é que, depois de saber o resultado, ou seja, depois de saber o que aconteceu, é muito fácil dizer: -Claro, é óbvio!

Em temas mais mundanos: um time vai à final de um campeonato nacional, o Palmeiras. Alguém poderia dizer que estava sem dois importantes jogadores, o técnico era decadente, a torcida estava desconfiada, não havia nenhum grande jogador, um talento, em campo. É “óbvio” que não seria campeão e se não tivesse sido, sobrariam explicações. Mas foi. Então, é óbvio que seria. Um técnico experiente, que já foi campeão mundial, um time motivado para honrar a ausência de colegas afastados, uma torcida fiel –sem trocadilhos–, um grupo unido e decidido a vencer, jogando com uma vantagem conquistada num primeiro jogo. É óbvio, não é?

E é justamente esta ignorância do que faz algo resultar em sucesso ou fracasso que desafia cientistas, publicitários, editores, empresários... Watts defende, então, que, ao invés de prever o futuro, passemos a identificar possibilidades. Ele nos lembra que pesquisas de opinião, ou de atitudes, em grande escala –o suficiente para serem confiáveis– sempre foram demoradas e de grande custo, mas com a evolução dos meios digitais, podemos identificar em minutos a reação de milhares, milhões de pessoas a certos estímulos. Há sites especializados nisso.

Mas a mensagem mais importante de “Tudo é Óbvio” parece ser o fato de que não devemos nos basear no que se chama “senso comum” que, normalmente, reflete apenas suposições isoladas. E aceitarmos o fato de que apesar de algo nos parecer evidente, pode haver uma outra realidade por trás. Ele cita um exemplo de uma experiência feita pela sua equipe em que analisam o efeito de premiações financeiras para melhorar o resultado do trabalho. Comissões. “Parece óbvio que melhore o resultado de equipes que recebam maiores quantias de dinheiro conforme o aumento do faturamento, numa empresa, por exemplo. Mas se o seu chefe te chamar hoje e disser que dobrou seu salário, você realmente trabalhará mais, ou melhor, de agora em diante? Também parece óbvio que funcionários preocupem-se com a qualidade do ambiente, as perspectivas de aprendizado e crescimento, o respeito com que são tratados, os recursos materiais e práticos de que dispõem para o dia-a-dia...”


O senso comum não é, então, uma visão do mundo. Ele seria um “saco de crenças” inconsistentes, contraditórias, que parecem apropriadas apenas em momentos localizados. Watts defende, então, que para podermos melhorar o presente e aperfeiçoar o planejamento do futuro precisamos entender como e quando nossas previsões falham. Ele oferece vários exemplos e indica alguns caminhos. Vale a leitura!

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