terça-feira, setembro 07, 2010

Governos: simplesmente, não atrapalhem!

Há um pensamento de que governos são, historicamente, incapazes de planejamento de longo prazo. Mais do que isso, os técnicos "públicos" lutam contra distribuição irregular e política de recursos. Os técnicos de capacidade e experiência superior não estão no serviço público. Estão nas empresas ou prestando serviços a elas. Consultores ou professores...

Esta mesma linha de pensamento conclui que mercados são soberanos e que a saída para a crise de recursos naturais está na dinâmica produtores-consumidores. Além da conhecida intenção de inserir o "custo" ambiental nos produtos (o custo da gasolina, por exemplo, deveria ser calculado incluindo os recursos para construção de hospitais e assistência médica para vítimas de doenças respiratórias causadas, justamente, pela queima daquele combustível desenfreadamente), há ações voltadas a envolver empresas na criação de redes de sustentabilidade de mercados.



Jason Clay, PhD em Antropologia e Agricultura pela Universidade de Cornell, nos EUA, e vice-presidente sênior da ONG WWF identificou 15 commodities que, produzidas de maneira insustentável, representam as maiores ameaças devido ao desmatamento, à perda de solo fértil, à exploração da água, ao uso de pesticidas, à sobrepesca, entre outros fatores.

Clay perguntou-se como podem ser modificados os modos de produção, de modo a conservar a biodiversidade. Certamente será complicado trabalhar com 6,9 bilhões de consumidores (a população mundial) que falam 7 mil línguas diferentes e conscientizar todos a ponto de mudarem instantaneamente seus modos de consumo. E mesmo que queiram mudar, haveria oferta de produtos mais sustentáveis para todos ao mesmo tempo?

Também será difícil lidar com 1,5 bilhão de produtores. Mas com 300 a 500 empresas, que controlam no mínimo 70% do comércio de cada uma das 15 commodities, a ideia começa a se tornar mais factível. "Se mudarmos essas companhias e a maneira como fazem negócios, o restante acontecerá automaticamente", defende Clay.

Em uma visão mais detalhada, Clay descobriu que 100 dessas 300 empresas estão ligadas de alguma forma a 25% do comércio das 15 commodities. "E com 100 companhias, nós podemos trabalhar". Ainda que 25% não seja um percentual tão alto, o pesquisador explica que essas grandes marcas têm o poder de influenciar a rede de fornecedores com a qual trabalham, e criar um efeito em cadeia. "Companhias podem 'empurrar' produtores mais rapidamente do que os consumidores seriam capazes."

E por que as empresas seriam convencidas a transformar seu modo de operar e fazer negócios levando em conta a conservação da biodiversidade e processos mais sustentáveis?

Mais que o risco reputacional, está em jogo a própria existência das commodities, que dependem de um ambiente em equilíbrio.



Ou seja, a longevidade das empresas depende do manejo sustentável de recursos naturais. Soja, cana de açúcar, milho, palma, arroz... Conveça 100 empresas e será suficiente para provocar uma revolução em praticamente todos os mercados.

Estas 100 empresas já foram identificadas por Clay nos últimos dois anos. Nos últimos 18 meses, foram assinados acordos com 40 delas. Nos próximos 18 meses, ele acredita que serão firmados acordos com mais 40. Uma das empresas que cita é a Cargill que embora ainda esteja engatinhando nesse processo, ao menos aderiu a ele. É uma empresa chave, responsável por 20% a 25% da produção global de óleo de palma. "Se ela toma essa decisão, pelo menos metade da indústria mundial de palma se mexe", aposta.

As empresas, então, teriam motivos de sobra para aderir a planos coletivos de sustentabilidade.

Governos: simplesmente, não atrapalhem!!

Um comentário:

  1. É uma realidade a interferência governamental destrutiva aos interesses públicos em em favor de interesses de pequenos grupos e cartéis em ascensão, por vaidade, vantagens individuais e outros valores menos nobres. Como servidora pública vítima da corrupção e do descaso com políticas sociais sérias , sou testemunha do massacre feito aos que querem podem de fato construir indicadores de processo e resultados confiáveis , sejam eles pessoas, empresas ou grupos. Cada dia é uma batalha pois o objetivo é mascarar a situação, ocultando tanto o potencial de sustentabilidade disponível quando dos interesses imediatistas e inconsequentes de governantes alucinados pelo poder. Virou um circulo vicioso , a retórica e a imagem publica desmentem a realidade factual escancarada!Com isso o Brasil continua a ser o país exemplo do desperdício e da miséria.

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