quarta-feira, maio 12, 2010

"Marinês": novo idioma eleitoral


A edição de ontem do jornal A Folha de São Paulo trouxe uma reportagem que descreveu expressões que tem sido utilizadas por Marina Silva e já se transformaram em sua marca registrada em um verdadeiro "hit" eleitoral.

O tema ambiental tornou-se obrigatório na campanha e graças à inclusão de Marina no processo. Em discursos e palestras pelo país, ela tem surpreendido ao recitar expressões estranhas ao dicionário político, como "problemas multicêntricos" e "desadaptação criativa".

"Transversalidade" foi uma criação do tempo como ministra do Meio Ambiente e adotado pelos assessores mais próximos. "Esta era muito usada por mim e por minha equipe para mostrar que a gente precisa de um conhecimento que seja transversal, com uma interação que seja transdisciplinar", explica.

No ABC do "marinês", índios e ribeirinhos da Amazônia são sinônimo de "povos da floresta". Causas que todo político diz apoiar e que nunca saem do papel, como a reforma tributária, viram "consensos ocos". Ou, numa variação mais dramática, para reforçar a ideia de paralisia: "ocos e congelados".

"Precisamos construir uma aliança intergeracional com compromisso ético". Em linguagem corrente, significaria que ela quer atrair pessoas de todas as idades e honestas.

Ao justificar o fato de ter entrado na disputa a bordo de uma legenda pequena e isolada, ela costuma se dizer à frente de um "movimento transpartidário". Nesse caso, a tradução seria que sua candidatura não se limita aos filiados ao PV.

Outro hábito dela é dizer que a realidade está "grávida de múltiplas respostas". Desta vez, o truque serve como desculpa para driblar perguntas difíceis. Algo como: "Não há respostas prontas para tudo".

Questionada sobre a etimologia de seu vernáculo, ela invocou raízes acadêmicas. "Essas palavras não foram criadas nem inventadas por mim", garantiu.

"Desadaptação criativa é uma expressão usada por um psicanalista argentino. Acho que tem tudo a ver com o contexto das transformações que o Brasil e o mundo precisam em relação a fazer novas perguntas para obter novas respostas."

O termo é citado sempre que Marina menciona a necessidade de mudança nos hábitos de consumo para evitar o esgotamento de recursos naturais.

"Se a gente não tivesse se desadaptado de usar as rodas apenas puxadas por bois ou cavalos, até hoje estaríamos andando de carroça", explica.

Ela gosta de dizer ainda que o mundo está diante de uma "inflexão civilizatória", ou seja, ficando mais civilizado.

As falas também reciclam termos da cartilha ambiental, como a "descarbonização" da economia. A tradução é simples: a senadora defende um modelo de produção que reduza a emissão de gases-estufa.

Mas ressalva: "As pessoas, diferentemente do que se pensa, compreendem o que se diz dentro de um contexto. E eu procuro usar sempre as palavras dentro de um contexto".

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