domingo, março 29, 2009

Lula, Minc e o plano de habitações


Questionado se as habitações a serem construídas no ousado Plano Nacional de Habitação teriam características sustentáveis, Carlos Minc -Ministro do Meio Ambiente- foi evasivo.

- As casas terão coletores solares para aquecimento de água para banho, ao invés de chuveiros elétricos?

- A maioria.

- As casas terão cisternas, para coleta de água de chuva?

- Sim, menos da metade.

- A madeira será certificada?

- Será madeira "legal".

Não consigo imaginar construções habitacionais populares construídas com dinheiro público utilizando chuveiros elétricos. Participei de um curso na Coelba (concessionária de energia elétrica na Bahia) em que a excelente professora afirmou, com superior sabedoria:

- Desconfie de tudo que só tem no Brasil. Menos da jabuticaba!

Ela se referia, sim, ao... Chuveiro elétrico! Criação típica para onde há energia barata, abundante e ecológica, como se pensou que seria a matriz energética do Brasil. Hidroelétricas custam, sim, muito para serem construídas e o represamento de água significa florestas inundadas, totalmente cobertas pela água! Vegetação em baixo d`água não troca oxigênio com a atmosfera, como fazia antes de estar submersa. Pior: ao apodrecer produz metano, um gás dezenas de vezes mais prejudicial do que o gás carbônico à camada de ozônio. Metano também ocupa local de destaque na lista dos gases que aceleram o efeito estufa e o aquecimento global.

Coletores solares captam a energia do sol e são usados em todo o mundo para reduzir a demanda por energia elétrica. Isto é importante para a sociedade porque permite reduzir, também, os investimentos nas usinas e nas redes de distribuição de energia. Há outra vantagem: ajudam a reduzir os efeitos causadores do aquecimento global. O chuveiro elétrico, ao invés do coletor solar, acabou se transformando em símbolo de status, talvez como o celular.

- Ora, agora que eu tenho minha casinha, cadê meu chuveiro elétrico?

Não importa se a conta de energia será muito mais alta. Ele precisa mostrar aos vizinhos que, agora, tem um chuveiro elétrico. Para diminuir o valor da conta, para ele, é mais fácil colocar uma garrafa pet de dois litros cheia de água sobre o relógio da concessionária. Verdade. Fique sabendo que isso é prática comum por esse brasilzão!...

O governo -no caso, o federal- pode acabar, então, não aproveitando a oportunidade de "popularizar" os conceitos de "casa sustentável". Para os usuários, isto significaria menos despesas de energia e água. Para a sociedade, vantagens ambientais.

Existe uma diferença entre madeira certificada e madeira legal. A certificada é fruto de uma "fazenda de madeira". O produtor aprovou seu "plano de manejo" e coleta madeira de forma a permitir o crescimento de outras árvores. Assim: se a árvore demora 15 meses para "amadurecer", ele pode dividir sua área em 15 lotes e a cada ano coletar madeira de um dos lotes. Neste lote, ele só vai mexer depois de 15 anos... Ou, marcar as árvores que, pela idade, já não estão trocando oxigênio e, ainda, estão prejudicando a insolação de árvores jovens. Aquelas estariam na hora do corte. Sim, estes projetos existem e permitem a "certificação" da madeira.

Já a "madeira legal" simplesmente é aquela que cumpre a legislação. Tem origem definida, seus produtores, transportadores e comerciantes recolhem impostos e o Ibama aprova tudo. É melhor do que aquela clandestina, que vemos, abismados, em imagens de programas de televisão flutuando às centenas em rios amazônicos. Mas, essa madeira legal é muito mais sujeita a fraudes e a corrupção. Todos sabemos que autorizações frias acabam usadas para acompanhar remessas de madeira.

Outra vez, o Plano de Habitação era a oportunidade do governo para criar "economia de escala" para produtos verdadeiramente sustentáveis. Incentivar o aumento da produção de coletores solares, madeira certificada, cisternas, bacias sanitárias de baixo consumo de água, por exemplo, iriam, sim, permitir que o preço desses produtos baixasse para todo mundo!

Isso, sim seria uma legítima "Política Pública"!

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