Entrevista publicada originalmente na revista Aquecimento Global, edição 01, 2007
Quando a arquitetura está a serviço do meio ambiente
Por Claudio Blanc
O incrível ritmo do crescimento econômico e populacional do planeta determina a construção de cada vez mais casas e instalações. E o material utilizado para erguer os novos prédios consome recursos naturais que já não estão tão disponíveis. Florestas são derrubadas para se obter madeira; cimento é fabricado a um alto custo ambiental; a produção de tintas envenena a atmosfera e ocorrem mais um sem-número de ações com conseqüências negativas para a saúde da Terra. Sentindo a necessidade de buscar novos materiais e reciclar outros, alguns profissionais estão desenvolvendo uma nova arquitetura ecológica ou sustentável.
O arquiteto Frederico Costacurta, consultor do Programa de Certificação em Turismo Sustentável (PCTS) do Estado da Bahia, vem desenvolvendo e trabalhando o conceito de arquitetura ecológica. Costacurta, que foi o coordenador da elaboração do plano diretor de Ilhéus, é gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Lagoa Encantada e Rio Almada, do Governo do Estado da Bahia.
Costacurta analisa a arquitetura das pousadas sob o ponto de vista das questões sócio-ambientais. Para ele, "é fundamental que a arquitetura das pousadas certificadas pelo PCTS tenha um caráter ecológico ou sustentável". Conversamos com o gestor sobre a arquitetura ecológica, conta.
Aquecimento global: O que é turismo sustentável?
Frederico Costacurta: E uma expressão que está substituindo "ecoturismo". Existe um Conselho Brasileiro de Turismo sustentável, que definiu os "Princípios do Turismo Sustentável", que você pode conferir no www.pcts.org.br. O PCTS é coordenado pelo Instituto de Hospitalidade e os consultores (como eu) são contratados para implementar os programas nos destinos e nas pousadas. A idéia é que seja uma atividade que se preocupe com as três dimensões: econômica, ambiental e sócio-cultural.
AG: O que é "arquitetura ecológica ou sustentável"?
FC: Existem várias denominações para a arquitetura amiga das questões sócio-ambientais: bioclimática, ecológica, sustentável... Na verdade, elas refletem a preocupação do arquiteto com a adaptação ao local, desde o clima até as condições culturais e materiais disponíveis. Não estamos falando apenas das questões estéticas, que é como o grande público vê a arquitetura, mas, também, em relação à função do ambiente, seja para moradia, lazer ou descanso, por exemplo. Existem vários equipamentos e soluções que podem privilegiar essas questões e se refletem nas decisões de arquitetura: materiais que possuem um processo de produção ou coleta que demanda o mínimo de energia ou água; que não incluem queimas nos processos; que podem ser reciclados; que não produzem resíduos em excesso... Descargas sanitárias que utilizam o mínimo de água, apenas o suficiente... Aberturas localizadas estrategicamente, de forma a reduzir a necessidade de ventilação, iluminação ou climatização artificial; e assim por diante.
AG: Como é avaliada a arquitetura voltada para questões sócio-ambientais?
FC: Criei uma matriz ponderada de avaliação sócio-ambiental da arquitetura. Ela quantifica a preocupação do empreendedor com diversas variáveis, como água, energia, resíduos (sólidos e líqüidos), aspectos culturais (estilo, cores, volumetria...) e aspectos sociais (geração de empregos, respeito a comunidades locais...). Cada construção recebe pontos a partir de algumas perguntas. Esses pontos foram ponderados a partir da opinião de alguns técnicos nacionais e estrangeiros, para permitir que as questões mais relevantes pesassem mais nas avaliações.
AG: O senhor certifica pousadas que usam eucalipto na construção. O eucalipto não é um material condenado pelos ambientalistas?
FC: A pesar de ser polêmico o eucalipto, porque há acusações de que podem estar derrubando matas nativas para seu plantio, sua utilização pode ser favorável porque é fruto de reflorestamento, e não de espécies nobres de florestas nativas.
AG: Que materiais são recomendados numa construção ecológica?
FC: Há, por exemplo, o tijolo ecológico, feito com argila, cimento e sem queima: ele cura ao relento por cerca de 30 dias, evitando o uso de carvão, muitas vezes feito de madeira das florestas nos fornos. A questão da água também é importante. As cisternas para água de chuva são bem comuns no Nordeste e no semi-árido. Mas já há leis em cidades grandes que exigem que se construam caixas d'água para armazenar água de chuva e para ser utilizada após tratamento. Já há, também, empresas que fabricam equipamentos simples que coam, tratam e filtram essa água antes de armazená-la e utilizá-la. Apesar de leigos dizerem que o total de água natureza é sempre o mesmo, e é verdade, o que vai reduzindo é o volume de água aproveitável para as atividades e o consumo humanos. Sem falar que, com a impermeabilização do solo urbano, há a concentração de água durante as chuvas e as enchentes decorrentes. Captar essa água, ou parte dela, também reduz o risco de enchentes.
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