sábado, dezembro 20, 2008

Depois da curva do rio


Você conhece lixo mágico? Lixo que desaparece? Você joga o lixo, fecha os olhos e... Ele some!

Eu dei um exemplo a amigos, hoje, há alguns minutos, no almoço. Falávamos de consciência do coletivo, esta condição para que "educação ambiental" possa, efetivamente acontecer.

Disse que populações ribeirinhas jogam seu lixo e seu esgoto no rio. O mesmo rio de que bebem água e em que lavam suas roupas. O mundo, para eles, acaba na primeira curva do rio. Eles não sabem que afetam muita gente depois daquela curva. Para eles, o lixo simplesmente desaparece do mundo. Como mágica. Falta-lhes "consciência do coletivo".

E não é que, agora há pouco, chegando em casa -eu moro defronte o rio Cachoeira (foto de José Nazal, do blog Catucadas), às vezes rio, às vezes mar- eu vejo um senhor humilde despejando o conteúdo de um balde no rio?! Sim, na minha frente! Não me contive e fui... Investigar.

-De onde vem esse lixo?
Ele nem virou para saber quem falava. Continuou a jogar cacos de vidro, entulho, restos de comida, nas pedras e na água.
-Do posto de gasolina, ali em cima...
-E o senhor vem jogar aqui?!
-A maré leva...
-Leva, não, meu senhor. E é por isso que o rio está assim. A culpa não é sua. Estou ligando para a polícia ir até o posto e tomar uma providência.
Ele se levantou.
-Faz isso, não. Eles me deram um dinheirinho e eu é que quis jogar aqui.
-O senhor sabe que a cidade precisa dos turistas? Que, com isso, o senhor está atrapalhando, por exemplo, essa lanchonete aqui do lado? O pessoal vai chegar, sentar, olhar essa sujeira.. O senhor acha que alguém vai querer comer aqui?
-Tá certo, não vamos fazer mal para a natureza. Tem razão. Me arruma um saco que eu cato de novo e deixo pros lixeiros levar.
E meio sem graça, meio satisfeito -sim, ele parecia o próprio ambientalista-, pegou tudo e colocou num saco que eu levei.

E nós? Qual é a distância da primeira curva de nosso rio? O que acontece depois dessa curva? Onde termina nosso mundo e começa o "mundo de todos"?

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